Lembram-se que vivi na Austrália? Aqui alguns posts sobre a minha experiência na terra dos cangurus. Quando voltei muitoooos de vocês me perguntaram: Como é viver lá… Como é trabalhar lá… Como é fazer amigos lá… Como uma voz, a mim, é muito pouco para descrever um país, em Janeiro andei à caça de meninas que também viveram/vivem na Austrália. Para que também elas pudessem falar um bocadinho da experiência, medos e dificuldades de se mudar para o outro lado do mundo. A primeira gata desta rubrica é a Ana Morais…
- Nome: Ana Morais
- Naturalidade: Arraiolos, Portugal
- Idade: 31anos
- Profissão: Fitness Club Manager / Trainer
Fala-nos um pouco de ti…
Olá eu sou a Ana Morais (porque seria ridículo dizer o meu nome todo aqui). Estou ainda numa transição entre ser uma miúda da terrinha e uma cidadã do Mundo. Se antes era sonhadora e defensora dos meus dogmas, hoje em dia estou liberta de tudo e pronta a abraçar o que quer que venha no meu caminho. O meu propósito nesta vida é ser o mais autêntica possível, viver bem os anos que cá estou e influenciar positivamente as pessoas que me são queridas.
Sou também a segunda pessoa com o nome maior em toda a Austrália o que me confere bastante orgulho e três horas a mais para tratar de qualquer serviço aqui pois não conseguem processar o meu nome todo e ficam baralhados. Portanto, em Portugal o meu último nome é Morais, mas para efeitos legais na Austrália é Fernande (sem “s” porque esta letrinha pequenina já não coube no cartão de identificação, muito menos o Morais).
1. O que te levou a viver fora? E porquê a Austrália?
Vim para a Austrália, supostamente só por um ano, com o meu namorado que teve uma proposta de trabalho aqui através da empresa dele. Na época, pensei que vinha de férias para o bem bom. E vim, mas entretanto comecei a trabalhar e a habituar-me à vida australiana e tenho ficado até agora. Antes de realmente ter vindo, achei sempre que não teria coragem de viver fora de Portugal!
2. Quando te mudaste para a Austrália?
Em Junho de 2014!
3. Como foi o processo de mudar para outro país (obter o visto, fazer as malas, dizer adeus a toda gente)?
Em termos de visto foi fácil, pois a empresa tratou dos nossos vistos temporários e posteriormente visto de trabalho temporário (457). Foi só trabalhoso em termos de papelada porque tivemos de entregar muita coisa mesmo. Empacotar foi relativamente fácil porque lá está, vinha só por um ano, portanto só trouxe o que cabia em duas malas de viagem e deixei todos os meus pertences em casa dos meus pais. A despedida dos amigos e familiares foi bastante difícil, já para não falar que fiquei bastante perturbada em “abandonar” as minhas duas gatinhas Mel e Fiona, que ficaram aos cuidados de um casal amigo, a Teresa e o Sérgio. Digamos que correram bastantes lágrimas nos primeiros tempos, como é normal quando nos mudamos para tão longe.
4. Conhecias alguém na Austrália antes de te mudares?
Não, foi totalmente à descoberta, mas foi rápido conhecer os portugueses em Brisbane. É sempre o jogo do amigo que conhece fulano e outro e mais outro…
5. Falavas Inglês antes de te mudares?
Não! Embora tenha tido Inglês na escola nunca pratiquei fora das aulas e por isso acabei por ir esquecendo tudo. Fiz um mês de aulas no Wall Street do Parque das Nações mesmo antes de vir para relembrar como se perguntava o nome, indicações e rever coisas super básicas. Quando cheguei aqui e percebi que para além da língua, o sotaque era esquisitíssimo e difícil de apanhar, decidi fazer mais um mês de aulas.
6. Acredito que sintas falta da tua família e amigos. Como geres isso?
Tento estar presente o mais possível. Como é óbvio, tornei-me muito dependente do meu telemóvel e faço questão de responder a todas as mensagens que me mandam quando acordo (sim, com o fuso horário recebo muitas notificações durante a noite, mas assim que vejo respondo). As redes sociais passaram a ser muito mais importantes que antes, pois é a maneira de comunicar com todos e acompanhar de certa forma a vida deles.
Com as amigas mais chegadas falo com bastante regularidade. Com a minha mãe, normalmente faço video-chamada pelo Messenger a cada três ou quatro dias e com o meu pai, falo diariamente por mensagem através do WhatsApp e video-chamada uma vez por semana. Tento “fingir” que não existem milhares de quilómetros a separarem-nos fisicamente e falamos de coisas normais, como por exemplo, o que vamos fazer hoje ou fizemos, o estado do tempo, o que aconteceu no trabalho ou outras trivialidades, como se estivéssemos juntos a ter uma conversa “de café”.
7. Com que frequência vais a Portugal?
Tenho ido a Portugal todos os anos e costumo ficar três semanas. Em 2016 fui três vezes, com durações mais curtas. Geralmente vou no Verão porque a minha pele já não aguenta frio!
8. Qual é a parte mais difícil de viver fora?
Perder as datas importantes como aniversários, Natal, Páscoa e, o nascimento e mesmo crescimento dos filhos das minhas amigas. Não gosto de ser a “tia desnaturada” que vive do lado de lá e que eles não vão conhecer a cara.
9. Em relação a oportunidades de trabalho…
– É fácil encontrar trabalho?
Tão fácil! Atenção, o problema não é arranjar trabalho aqui, é realmente ter um visto que permita trabalhar, isso sim é complicado. Portanto, eu cheguei a Brisbane no fim de Junho de 2014.
- Em Junho andei em fase de adaptação e férias
- Em Julho, estudei numa escola de Inglês
- Em Agosto e em Setembro comecei a ver um site de empregos (www.seek.com.au) para ver se encontrava algum part-time a fazer qualquer coisa que não fosse preciso falar muito. Pensei talvez procurar em lojas de roupa.
No entanto, escrevi o meu perfil completo com as qualificações que tinha em Portugal e, em Outubro, fui chamada para uma entrevista para ser Personal Trainer. Fui à entrevista e só aí percebi todo o processo que iria ser necessário para obter as equivalências de Curso. Não bastava apenas a tradução do diploma, tive mesmo que me inscrever no Instituto de Desporto daqui, pagar o curso quase todo, embora não precisasse fazer as disciplinas. A parte boa: fui fazendo isto tudo enquanto já estava a trabalhar, pois o meu patrão deixou-me começar a trabalhar assim que viu o meu currículo. Tive imensa sorte com este processo mas acredito que dependa das profissões, algumas requerem ainda mais esforços, outras nem tanto.
– Estás a fazer a mesma coisa que fazias em Portugal?
Sim, mas em Portugal apenas era Personal Trainer e Instrutora de aulas de grupo.
– Mais precisamente, o que fazes agora?
Entretanto progredi em funções no mesmo ginásio e de momento sou Gestora do Clube e ainda tenho alguns alunos de treino personalizado. Este é o meu trabalho a full-time, mas estou a começar um projecto pessoal à parte, um canal no Youtube chamado “Move com Ana Morais” e a minha missão é pôr as meninas de Portugal a mexer comigo, a treinar, seja em casa, ginásio ou outdoor e irei colocar semanalmente conteúdo e informação acerca de treino ou práticas saudáveis em geral. Totalmente gratuito e em português!
– E quem quer procurar trabalho na Austrália….
Muita persistência com o visto. O trabalho será fácil! A Austrália está a apertar cada vez mais o cinto de entrada (é o que me parece) mas de qualquer maneira quanto mais cedo tentarem melhor serão as hipóteses. Se a vossa profissão é uma das que eles necessitem aqui, podem tentar candidatar-se a um visto de trabalho temporário ainda de Portugal ou onde quer que estejam no Mundo. Consultem este link para verem quais os requisitos de obtenção de visto de trabalho e para verem as listas de profissões requeridas.
Outra opção, seria virem à aventura e obterem o visto de turista que tem a validade de três meses. Acho que pode ser renovado até o máximo de um ano (Podem também pedir o visto de trabalho e férias, mais informação AQUI). Uma vez cá, à partida, será fácil arranjar trabalho temporário na área hoteleira, como em hostels, cafés/bares ou lojas no geral. Dificilmente encontrarão um trabalho que vos patrocine um visto de residência permanente neste tipo de trabalhos, mas se o intuito é conhecer o país, viajar, aprender a língua e ganhar algum dinheiro para pagar as despesas, porque não tentar?
O MELHOR DA AUSTRÁLIA | O PIOR DA AUSTRÁLIA |
Não há lixo no chão, não cheira a tabaco porque até na rua há certas restrições. | Estar isolado e longe de tudo. |
Ser um país com serviços organizados mas ao mesmo tempo ter uma vibe relaxada. | Ser bastante difícil ou mesmo impossível para alguns poderem fazer vida aqui, dado os requisitos de visto |
Os trabalhadores não precisam de ser sobrecarregados com horários ridículos para viverem bem, como em Portugal. | Tudo o que é entretenimento é muito caro (mesmo para os bolsos australianos). Aqui, apesar de se ganhar mais do que em Portugal, o custo de vida é mais elevado: sair à noite custa os olhos da cara (bebidas, restaurantes decentes, táxis) assim como ir ao cinema ou a concertos. |
As pessoas que te atendem, seja em serviços ou lojas, são muito simpáticas e recebem-te sempre com um sorriso. | Viajar para outra cidade australiana e ficar hospedado em hotéis ou mesmo Airbnb sai caro (a não ser que apanhes uma grande promoção). |
10. Aconselharias alguém a mudar-se para a Austrália?
Claro que sim. Para a Austrália ou para qualquer sítio do Mundo. Vai, aprende a desenrascar-te, vê outras culturas e nunca mais serás o mesmo. “Uma mente que estica com novas experiências, nunca mais volta às velhas dimensões” (by Oliver Wendell Holmes). A Austrália é uma excelente escolha porque é um país de grandes oportunidades, organizado, justo e… está sempre bom tempo, pelo menos aqui em Brisbane, no estado de Queensland. Os únicos meses mais frios são os de Verão em Portugal (Junho, Julho e Agosto) e mesmo estando mais frio, está sempre sol e as máximas durante o dia podem chegar aos 20 graus, o que é óptimo.
11. Três conselhos para quem está a pensar mudar-se para a Austrália…
Os meus conselhos são todos burocráticos porque acho que é o único impedimento ou a maior complicação:
- Pesquisem em relação aos possíveis vistos que podem obter, é a primeira coisa, sem visto não podem vir. Preparem traduções certificadas e oficiais dos documentos de identificação principais e diplomas de curso ou outras qualificações que tenham. E por fim, vejam se conhecem alguém que já cá esteja para vos ajudar a ambientar ao país nas primeiras semanas. Isto é válido para qualquer sítio.
- Juntem também uns trocos porque é um país caro e paga-se bastante para a obtenção dos vistos.
- Embora seja importante envolverem-se desde o início na cultura do país e estar com “locais” para a verdadeira experiência (procurem Meet Ups para encontrarem pessoas com as quais têm hobbies em comum), também acho importante encontrarem a comunidade portuguesa que vive no local. A comunidade pode ajudar em diversos situações, seja a tratar de papelada e informação específica, como recomendar os melhores sítios para ir, as melhores práticas, etc. Eu estarei aqui se precisarem de mim!
12. Já viajaste no país? Onde estiveste?
Sim claro, vou enumerar os sítios mais longe de Brisbane, porque aqui à volta já houve muita passeata de fim-de-semana. Há imensos trilhos e praias desertas espalhadas por todo o lado: Sidney, Melbourne, Canberra, Byron Bay, Noosa, Gold Coast, Fraser Island, Stradbroke Island, Great Barrier Reef (espero que tenham oportunidade de ver antes de desaparecer por completo, infelizmente) e Whitsunday Island (Whitehaven Beach, the most beautiful beach ever!). Aqui pertinho também já fui à Nova Zelândia e vale muito a pena visitarem se vierem para este lado.
- Comida favorita: Comida Koreana 🙂 (Sorry, não há nenhuma comida australiana que seja de cair para o lado, à excepção da cultura do pequeno-almoço e dos flat whites – café com leite)
- Hábito favorito: Brunch out – Todos os pequenos-almoços australianos são brunches e, muito chiques – love it.
- Lugar favorito: Byron Bay – Embora Austrália tenha praias paradisíacas e a uma Barreira de Coral única no mundo, o sítio onde volto mais vezes é Byron pela sua atmosfera hippie e pé descalço, que também só encontrei neste sítio até hoje.
- Desporto favorito: Treino em ginásio, o meu favorito em todo o lado. E é bom ter contacto com uma população que está de mente mais aberta para o treino e reconhece os benefícios de treinar. Totalmente diferente da mentalidade portuguesa, que espero que mude um dia.
- Expressão favorita: (sobre o facto de eles abreviarem tudo) – Have an avo in the arvo! Comer um abacate à tarde!
13. Uma frase para descrever a Austrália e a tua experiência na terra dos cangurus…
Australia tem tanto de peculiar quanto tem de mix de culturas e aqui aprende-se o Mundo.
Embora não fosse um país de sonho para mim anteriormente, foi o sítio em que tive tempo e condições para reflectir acerca de quem era a Ana e quais são realmente os sonhos dela. Esse crescimento interpessoal é algo que já não me tiram, tal qual como uma mente mais abrangente, que já não volta a encolher 🙂
Instagram: @ana_lucia_morais
Página Facebook: Ana Morais
YouTube: MOVE com ANA MORAIS
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Ana, muito obrigada pela tua partilha. Tenho a certeza que as tuas dicas vão ajudar muita gente. É bom saber que existem mais garotas portuguesas por este mundo fora. Garotas, não hesitem em contactar a Ana se tiverem questões sobre a Austrália.
Beijinho,
Daniela
Olá Daniela, que tudo te corra bem
Muitos beijinhos
Obrigada Tia Lídia 😀
Eu continuo nos Estados Unidos… A minha amiga é que está a partilhar a história dela na Austrália 😀
Beijinhos para todos