Conheci Andrea algures na América do Sul em 2017. Viajámos juntas na Bolívia e, quando lhe disse que tinha medo de pedir boleia sozinha, ela olhou para mim e disse-me: Usted puede, no tenga miedo.
Palavras fortes de uma pessoa pequena e destemida, onde eu vi tanta coragem. Meses depois, visitei-a em Pereira, na Colômbia, e ela foi aí que ela me falou dos seus planos de viajar em África. O mês passado, quando vi que ela já estava em África, não pude perder a oportunidade de a “trazer” até aqui.
- Nome: Andrea Ruiz Manrique
- Nacionalidade: Colombiana
- Idade: 27 anos
- Profissão: Jornalista e Fotografa
- Algo de que te orgulhas: A maneira como minha família me educou. Cresci num ambiente onde amor, respeito pelo outro, igualdade e disciplina são cruciais
- Curiosidade: Hacer que suceda – É uma tatuagem que tenho no meu braço direito. Porquê? Porque face à adversidade, o ser humano tem duas opções: sentar-me e assistir as coisas acontecerem com uma atitude indiferente ou agir e fazer com que coisas boas aconteçam – eu escolhi a segunda.
Actualmente a viver a tua primeira experiência em África…
SIM! Levei 4 dias e 5 aviões para chegar a Uganda, um pequeno país no centro da África. Com minha mochila e outra mala cheia de doces e jogos colombianos para crianças, cheguei a Luwero, uma pequena aldeia a cerca de 3 horas da capital Kampala, o mês passado.
Aqui pega-se um “bora bora” – motas coloridas, rápidas e fortes para resistir ao peso de 3 a 4 pessoas – para ir a qualquer lugar. Uganda é um lugar onde os sorrisos são o pão de todos os dias e onde os “muzungus” (pessoas brancas) são raros.
Aqui os dias passam-se entre aulas, jogos e amor – resumidos em abraços e sorrisos. Todos os dias, os feijões são comidos com uma preparação ancestral à base de milho. Aqui, cada risco vale a pena porque as crianças cambaleiam de alegria, mesmo com as suas meias rotas, mesmo com os seus sapatos de pares diferentes, mesmo com os seus simples carros feitos de garrafas de plástico. Por aqui não interessa se os meninos usam calças cor-de-rosa e as meninas camisolas de menino porque por aqui, eles já entenderam que a única coisa que precisam para preencher as suas vidas é amor genuíno.
E isso é definitivamente o que o mundo precisa: AMOR, talvez tenhamos a receita mágica por séculos e nos tenhamos esquecido de como aplicá-la!
1. O que estás a fazer no continente africano?
De momento, sou voluntária em Uganda com a ONG LICSO, uma experiência na qual tenho na qual deposito muitas expectativas. Essa experiência representa a minha capacidade de amar incondicionalmente e de servir os outros porque, para mim, isso é um verdadeiro privilégio. A ONG é um abrigo de casas com cerca de 300 crianças e adolescentes a maioria deles órfãos, outros com HIV, deficiências, refugiados da guerra civil ou desnutridos. Solidariedade é um profundo compromisso para com as crianças que são as principais chaves neste refúgio.
Estar na África, ajudar estas crianças vulneráveis, doentes e abandonadas é também uma chance de deixar um pequeno legado, uma amostra da tenacidade e coragem da uma menina colombiana.
2. O que te motivou a viajar por África?
Em 2017, eu, uma garota de 1,57m, viajei pela América do Sul sozinha. Cheguei ao outro hemisfério (Equador) sozinha, andei 4 dias para chegar ao Machu Picchu e cruzei o Salar de Uyuni na Bolívia. Amei perder-me no metro de Santiago (Chile) e também nas ruas de Valparaíso. 7 caminhões e 7 motoristas foram suficientes para me ajudar a visitar o belo país azul, a Argentina, e me banhar nas águas das Cataratas do Iguaçu (Brasil). Finalmente, atravessei o rio Plata de barco para chegar ao Uruguai.
Durante meses, vivi da imensa bondade da humanidade, vivi do desapego das pessoas e descobri que há muitas pessoas boas neste mundo – MUITAS –. Pessoas dispostas a ajudar, pessoas dispostas a dar sem medir, sem esperar por qualquer retribuição.
Eu vivi, sofri e voltei para casa. E foram todos estes eventos que me ajudaram a fortalecer minha alma e a convencer-me de que agora estava pronta para outro continente: ÁFRICA. Sim, África. O continente do qual ouvimos falar e que a maioria das pessoas não está disposta a ir porque: há crianças famintas; porque as pessoas têm medo de ser envenenadas com um copo de água.
3. Quanto tempo vais ficar em África?
3 meses
4. O que levas na tua mochila para 3 meses de viagem?
Um pouco de café para os dias longos, muitas histórias, fotos que me ajudam a não esquecer as minhas raízes, uma imagem da Virgem, papel higiénico (nunca se sabe), um microfone, a minha câmera e um profundo desejo de mudar e melhorar a realidade injusta de muitas crianças e adolescentes. No final, a minha mochila está cheia de esperança e paixão.
5. Estás a viajar sozinha? E porquê?
SIM: Estou a viajar sozinha mas nós nunca estamos sozinhos quando viajamos. No caminho encontramos sempre pessoas que se tornam amigos e mesmo família para a vida. Acredito que viajar sozinha não deve ser um impediment para ninguém, nós somos FORTES e conseguimos sempre chegar onde realmente queremos.
6. Que países gostavas de visitar em África?
Por agora só visitei Uganda. Mas no futuro quero ir à Tanzânia, Quénia e Etiópia. Além disso, antes de voltar para o meu país, estou a pensar explorar o Egito, Israel e Jordânia.
7. Qual é o teu lugar favorito até agora?
A Colômbia continua a ser o meu lugar favorito no mundo. Voltar a casa e passar tempo com minha família é sempre a melhor coisa do mundo para mim. Não há preço que pague o valor de estarmos rodeados de pessoas que nos amam.
8. Como estás a financiar esta experiência?
Com muito trabalho duro. Neste caso, quando consegui juntar dinheiro suficiente, comprei o meu bilhete de avião, fiz a mala e iniciei a viagem. Eu acho que nós não precisamos de muito dinheiro para viajar, só precisamos de ter paixão suficiente para perseguir seus sonhos.
9. Conte-me sobre a melhor experiência que tiveste em África até agora …
- Receber amor de crianças! Eu viajei para ajudar os outros, mas acabei me ajudando a mim mesma com o amor que recebo de todas as crianças.
- Ver os sorrisos das crianças que apesar das dificuldades, da dor e da injustiça ainda têm a coragem de sorrir com tanto amor.
10. Já tiveste algum problema desde que iniciaste esta experiência?
Bem, como em todas as viagens, há sempre alguns problemas mas todos valem a pena quando estás rodeada de crianças felizes.
- Eu perdi minha carteira com todo o dinheiro que trouxe para a viagem
- Apanhei uma intoxicação alimentar com um bolo
- Passei quase 3 dias a dormir num casa-de-banho onde me tornei muito amiga das moscas e dos lagartos.
- Um dia me perdi-me na volta para a aldeia e quando me apercebi já eram quase 10h da noite. Naquele dia senti medo mas sempre há anjos no caminho.
- A língua tem sido um desafio porque aqui eles falam luganda e Inglês e eu não falo inglês muito menos luganda. Às vezes é muito engraçado comunicar-se. Mas acho que mais facilmente ensino espanhol aos meninos do que começo a falar Inglês u Luganda. Mas no final do dia, a linguagem do amor é sempre mais forte.
- Outro dia quis cozinhar um prato colombiano e pedi a alguém que me comprasse uma galinha. Ele chegou com uma galinha viva para matar e eu simplesmente não sabia o que fazer. Olhei para a galinha por uma hora e, honestamente, acho que eu tinha mais medo dela do que ela de mim. O papá da família lá me veio ajudar e embora a comida tenha levado cerca de 6 horas, no final, todos os pratos estavam limpos… Acredito que tenham adorado o prato colombiano.
11. É perigoso viajar sozinha na África?
Não, não mesmo. Eu não acho que nenhum lugar no mundo é perigoso o suficiente para não ser aproveitado.
12. É caro viajar em África?
É muito barato: comida, transportes, roupas. Um dia, comprei um vestido por 1 dólar, um lindo vestido (acreditem). É muito barato. Além disso, a maior parte do tempo estou na escola, de modo que não tenho tempo para gastar dinheiro. Aqui, tenho o pequeno-almoço e almoço, todos à base de mandioca, arroz, banana e batatas.
13. A tua solução para salvar o mundo e, especialmente os países mais pobres?
AMOR! Eu acredito no amor acima de qualquer outra coisa e acredito que uma revolução de pequenas ações pode realmente levar-nos a um mundo muito melhor.
14. Completa a frase: África é … uma bênção
Graças ao amor, consegui, pouco a pouco, plantar sementes de esperança nos lugares onde vou. Embora a estrada tenha se estreitada com frequência, compreendi que a estrada é sempre o menos importante: o importante é saber como chegar lá. Chegar e descobrir sorrisos de amor verdadeiro. Aprender a engolir dias tristes com café, sem mapas, horários ou GPS inspira-me todos os dias a perseguir essa estrada com minha mochila cheia de paisagens, histórias e desejos.
Eu viajei para ajudar os outros, mas acabei me ajudando com o amor que recebo de todas as crianças.
____________________________________________________
Muito obrigado Andrea, és uma inspiração! Se todos nós tivéssemos um bocadinho da tua coragem e da tua produtividade para ajudar o outro, viveríamos num mundo muito melhor.
Se quiserem entrar em contato com Andrea ou saber mais sobre a viagem dela:
Instagram: @andarinos
Facebook: Andrea Ruiz Manrique, Pereira Colombia