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Andar à boleia pela Argentina

Existem coisas que todos queremos fazer uma vez na vida. Uma das minhas era andar à boleia na minha viagem pela América latina. Quando sai da Europa toda gente me aconselhou a não o fazer na América latina (Sim Sim, por lá é perigoso).

Todos os meus amigos mocheileiros me aconselharam a não o fazer por 2 razões: por viajar sozinha; por ser mulher.

Pensei para mim que não o faria mas sabia que a vontade era muita. Era um misto de medo com muita muita adrenalina e curiosidade pelo desconhecido: afinal estar ali à beira da estrada com a mochila de 15kg às costas ao sol é duro e perigoso. Qualquer um pode parar; qualquer um te pode roubar; qualquer um te pode fazer o que quiser.

Por isso durante os 3 primeiros meses não o fiz nem pensei. Mas depois de 1 semana de excursões na Bolívia e no Chile, achei que era o momento. O mês de Janeiro tinha sido duro fisicamente e monetariamente. Há muito que tinha gasto o budget do mês. E pensei: é agora!

Hitchhiking
Hitchhiking

Falei com um taxista que me tinha levado até às Grandes Salinas e disse-me mais ou menos onde podia conseguir boleia facilmente para chegar a Jujuy (a capital mais próxima de Purmamarca, cerca de 160km). O objetivo era chegar a Mendoza.

O senhor ainda me disse que me podia levar ao final do dia mas sabia que isso seria pior porque chegaria tarde à capital (algo que detesto pois é bem mais perigoso).

Andei de carro, de carrinha, de camioneta aberta e assim fui baixando no mapa. Vi paisagens fantásticas e discuti de tudo e nada com os condutores. Eram umas 16h quando quando um camionerio me deixou numa estação de serviço visto que o seu dia de trabalho terminava ali (disse-me que conseguiria facilmente boleia ali). E 2 minutos depois estava outro camião a parar para me levar até Tucuman.

Quando o senhor me disse Tucuman, pensei: não!!! Tucuman ficava a caminho mas toda a gente me tinha dito para evitar cidade (Tucuman é uma cidade perigosa). Com o coração nas mãos subi ao camião gigante que transportava cerâmica e em menos de 10 minutos já estava a rir com o camioneiro. Contou-me a vida dele, falou-me muito da família e em menos de 20 minutos já estava a ligar à esposa para a informar que ia chegar com uma convidada de Portugal. SIM. Visto que já íamos chegar tarde a Tucuman só me disse: “Não. Se caminhas agora até à estação chegas nua. Roubam-te tudo. Jantas lá em casa, dormes e amanhã segues para Mendoza” e assim foi.

Argentinian family
Argentinian family

É por estas e por outras que me digo que ainda existem pessoas boas neste mundo.

 

Continuem a seguir as minhas aventuras pela América latina.

 

Daniela Matinho