Conheci Brigida num curso on-line da Edx. Entrei em contato com ela porque tive algumas dificuldades com uma tarefa de Python e ela foi incrivelmente simpática desde o início. Trocamos algumas mensagens e depois convidei-a para partilhar connosco sobre sua vida em África.
Ainda não a conheci mas já me sinto amiga dela. Ela impressionou-me em cada resposta e deu-me ainda mais vontade de conhecer o continente dela. ADORO a sua positividade e a sua garra. Então veja a entrevista dela por aqui…
- Nome: Brigida Saíde
- Nacionalidade: Moçambicana
- Idade: 26 anos
- Profissão: Estudante de mestrado em Engenharia Química e Petróleo na Universidade de Witwatersrand (África do Sul) e Engenheira na Consultora Altea Resources
- Fala-me um pouco de ti… A minha paixão é ajudar as pessoas a mudarem a suas vidas para cenários melhores: eu acredito que, se dedicarmos 1 minuto do nosso tempo a ajudar os outros, podemos SINCERAMENTE viver num lugar melhor. Eu sonho em ser uma engenheira de sucesso e poder inspirar outras mulheres a lutarem pelos sonhos delas.
- Conta-me uma história engraçada sobre ti: Há alguns anos atrás, fui a Cape Town para visitar uma amiga. Ela veio-me buscar no aeroporto e daí apanhámos um Uber para para casa. No caminho, parámos numa estação de serviço para comprar sandes. Assim que comprei a minha, corri até ao carro (estava a chover muito). Assim que entrei no carro, disse: “Sh * t, aqui está muito frio!” O cavalheiro ao meu lado, olhou para mim e disse calmamente: “Não é educado uma menina bonita como tu dizer essas palavras”. Só então percebi que estava no carro errado. “Oh meu Deus!”. Acho que foi tudo o que disse e saí porta fora para o carro azul (bastante semelhante àquele) onde estava a minha amiga.
- Fala-me dos teus hobbies… Adoro ler os romances de Nicholas Sparks e os de Harlan Coben; Ouvir música (kizomba é meu estilo musical favorito); Assistir TED Talks (como Chimamanda Ngozi Adichie, Denzel Washington, Brigette Hyacinth, etc); e ir ao ginásio (adoro exercitar meu corpo).
1. E sobre viajar…
Viajar é provavelmente o que me dá mais prazer. Viajar ajuda-me a reduzir o stress e a sair da minha rotina. Quando tu estás fora da tua zona de conforto, num país diferente, é muitas vezes necessário procurar a orientação dos outros. Também é assim que nos conectamos com as pessoas do país, outros viajantes ou mesmo com quem está a viajar connosco. E no final de tudo, aprendemos sobre a cultura, comida, música, dança, idiomas e tradições.
2. Que países já visitaste?
Comecei a viajar muito cedo (tinha cerca de 3 anos). Já visitei muitos lugares. Em Moçambique: a maioria das praias moçambicanas. No exterior: África do Sul, Zimbábue, Tanzânia, Marrocos, Nigéria, Namíbia, Egito, este ano Angola… Nunca viajei para fora do meu continente mas espero fazê-lo em breve. Em Dezembro é tradição na minha família viajar de 20 de Dezembro a 10 de Janeiro.
3. Tu és Moçambicana… Atualmente estás a viver na África do Sul (AS). Porque decidiste mudar para AS?
Mudei-me para a África do Sul – cidade de Joanesburgo porque consegui uma bolsa de estudos para estudar em 2016. Durante os meus estudos, tive a oportunidade de começar a trabalhar. Por isso, decidi instalar-me em Joanesburgo durante algum tempo e, num futuro próximo, voltarei a Moçambique.
4. Como mulher, qual é o maior desafio que encontras na África do Sul?
Não é só na África do Sul, mas em África em geral. As principais barreiras de uma mulher são:
- exclusão económica;
- sistemas financeiros que perpetuam a discriminação das mulheres;
- participação limitada na vida política e pública;
- falta de acesso à educação e má retenção de meninas nas escolas;
- violência baseada no género;
- práticas culturais nocivas;
- e exclusão de mulheres das mesas de paz.
5. Tu és engenheira, porque escolheste esta carreira?
Eu amo trabalhar como engenheira e acredito que as mulheres também podem ter sucesso num campo dominado por homens. Ao contrário de mim, algumas mulheres podem ter medo disso. De alguma forma, crescemos com a imagem de que: no cabeleireiro uma mulher é que nos vai pentear e na oficina de automóveis, um homem é que nos vai consertar o carro. Mas eu acredito que as coisas estejam a mudar. Há muitas mulheres engenheiras muito qualificadas!!
6. Tens muitas colegas de trabalho mulheres?
Não são muitas mas posso dizer que o número de mulheres na minha área tem vindo a aumentar nos últimos anos.
7. Quantas línguas falas?
4 línguas: Português (língua materna), Inglês (fluentemente), Changana e Macua (dialetos do meu país).
8. Qual é o salário médio em Joanesburgo?
10 000,00 Rands (mais ou menos 614€)
10. Diz-me 3 coisas positivas e 3 negativas de Joanesburgo:
POSITIVO
- Friendly: Joanesburgo é a cidade mais amigável onde já estive. Onde quer que vá, as pessoas fazem, no mínimo: um contato visual, muitas vezes sorriem e é muito provável que elas se cumprimentem com um abraço. Seja quem for!
- Integração: a África do Sul é multi-TUDO. Muitas culturas, etnias, idiomas, religiões … Por mais chocante que seja a burguesia de representar a VERDADEIRA África do Sul, em Gauteng (província de Johannesburgo), as classes alta e média estão mais misturadas. Eu gosto de usar este exemplo: Se eu andar por Cresta, Rosebank ou Sandton Mall a meio da semana há, inevitavelmente, uma seleção de mães negras, brancas, indianas, “de cor” (e outras!) a debater as lides da casa com seus trollies e crianças na fila lotada do Woolies (supermercado). Elas podem não estar representadas proporcionalmente mas já estivemos mais longe. Em relação às atividades de restauração, as equipas também estão mais misturadas do que noutras cidades, onde a maioria é negra.
- Beleza e clima: Joanesburgo é de tirar o fôlego. O pôr-do-sol nunca deixa de me surpreender: o horizonte muitas vezes parece ter chamas com cores arrojadas e dramáticas. Há muito pouco vento e os céus azuis são muito nítidos, dando às manhãs uma sensação de otimismo e esperança. Além disso, Joanesburgo tem a maior floresta artificial do mundo (há quase 6 milhões de árvores).
NEGATIVO
- Racismo: Mesmo após a independência do país, ainda existem níveis de racismo elevados. Muitas pessoas relacionam esta questão com a colonização que o país sofreu e com o período do apartheid.
- Xenofobia: É “comum” ver comentários xenófobos nos subúrbios de Alexandra, em Joanesburgo entre sul-africanos negros e refugiados / migrantes de outros países africanos – principalmente Zimbábue. Os Zimbabuenses – e outros africanos – são amplamente acusados de roubar empregos e de contribuir para o crescimentos da taxa de criminalidade.
- Crime: Eu admito que o crime é um problema em Joanesburgo, apesar das coisas estarem a melhorar. Talvez eu tenha tido sorte mas até agora, em quase 3 anos, nunca tive problemas. No entanto, eu acredito que a questão do crime não é apenas sobre SA mas sim um problema das grandes cidades. Temos como exemplos São Paulo (Brasil), Los Cabos (México) e muitas cidades nos Estados Unidos.
11. Se amanhã decidisse viajar até a África do Sul, que conselhos me darias?
Bem, em primeiro lugar, prometo que irias amar e experimentar novas aventuras que nunca viveste. E os meus conselhos seriam:
- Evitar períodos de alta temporada: do início de Dezembro até o final de Janeiro e de Julho a Setembro. Durante esses períodos, os preços em hotéis, restaurantes e lojas aumentam substancialmente.
- Escolher uma cidade consoante aquilo que procuras. Joanesburgo é a principal área de negócios da África do Sul. Aqui é muito comum encontrar pessoas interessadas naquilo que estás a fazer ou a planear! Joanesburgo é um lugar com grandes oportunidades para criar contactos. Há muitos almoços corporativos, noites de negócios, jantares, negócios em clubes de golfe e eventos musicais. E a melhor parte: podes fazer negócios em todos os lugares… A maioria dos freelancers nem têm um escritório. Em Cape Town é completamente diferente. O ambiente é mais boémio e o ritmo é menos acelerado.
- Evitar trazer jóias feitas de pedras preciosas ou semipreciosas… Uma pessoa nunca sabe quando os ladrões não andam à solta. : D
12. Tu também gostas de viajar, com que frequência viajas?
Tudo depende, eu diria 4 vezes por ano.
13. Como viajas geralmente (sozinha, acompanhada…)?
Geralmente viajo com família e / ou amigos. Mas também há períodos em que viajo sozinha por razões profissionais ou académicas.
14. O que te motiva a viajar?
Aventuras, conhecer novas pessoas e aprender sobre novas culturas e países.
15. Diz-me um país que gostasses de conhecer…
Bem, isso é uma questão difícil porque tenho muitos na minha lista. Por Agora: Dubai está no topo da minha lista.
16. Que conselho darias às meninas que pensam viajar no teu continente…
Não hesitem, venham. África tem algumas das experiências de viagem mais incríveis no mundo inteiro. Somos um continente vasto e altamente diversificado, cheio de culturas, diferentes cenários e animais extraordinários. Já para não falar da comida, idiomas e música. Eu prometo que quem vier vai ADORAR.
17. É perigoso viajar sozinha em África?
Nãoooo, a sério que não. Mas no final das contas, uma pessoa nunca está realmente sozinha. Além disso, as pessoas em África são muito simpáticas e têm uma mente muito aberta.
18. Completa a frase: África é… única.
Neste mundo há espaço para toda gente. Nós, mulheres, só precisamos de acreditar e lutar por isso.
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Muito obrigada Brigida. Estou muito feliz por te ter contactado e espero um dia poder conhecer-te pessoalmente.